Stanford e Arc Institute Criam Vírus com IA que Ataca Bactérias: Um Avanço Promissor com Cuidados Necessários

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Em 12 de setembro de 2025, investigadores da Universidade de Stanford e do Arc Institute em Palo Alto, Califórnia, anunciaram um marco na bioengenharia: pela primeira vez, utilizaram inteligência artificial para criar vírus funcionais que atacam e eliminam bactérias. Liderada por Brian Hie, a equipa usou o modelo de IA Evo para desenhar 302 genomas de bacteriófagos baseados no phiX174, dos quais 16 foram capazes de infetar e destruir estirpes de E. coli, incluindo variantes resistentes a antibióticos, em testes de laboratório. Este avanço, publicado como preprint na bioRxiv, promete revolucionar a fagoterapia e acelerar a criação de tratamentos personalizados, mas levanta preocupações éticas. Eis o que precisas de saber sobre esta descoberta.

Como a IA Criou Vírus Funcionais

A equipa treinou os modelos Evo 1 e Evo 2, semelhantes a modelos de linguagem como o ChatGPT, com cerca de 2 milhões de genomas de bacteriófagos (Evo 1 usou 2,7 milhões de genomas procarióticos e de fagos; Evo 2 expandiu para 9,3 biliões de nucleótidos de 128 mil organismos). Usando o phiX174, um vírus simples com 11 genes e cerca de 5.400 pares de bases, a IA gerou 302 designs de genomas. Destes, 285 foram sintetizados quimicamente e inseridos em E. coli. Surpreendentemente, 16 genomas (5,3%) funcionaram, replicando-se e destruindo as bactérias, formando placas de lise em placas de Petri, como descrito por Hie: “Ver aquela esfera gerada por IA foi impressionante.” Stanford e Arc Institute Criam Vírus com IA que Ataca Bactérias: Um Avanço Promissor com Cuidados Necessários

Notavelmente, o fago Evo-Φ69 superou o phiX174 natural, com uma taxa de expansão entre 16 e 65 vezes maior em seis horas, contra apenas 1,3 a 4 vezes do original. Um exemplo, o Evo-Φ36, incorporou uma proteína J do fago G4, mais curta, com a IA a reconfigurar o genoma para manter a funcionalidade, algo que tentativas humanas falharam previamente.

Potencial para a Fagoterapia

O sucesso destes vírus sintéticos abre portas para a fagoterapia, uma alternativa aos antibióticos tradicionais, especialmente contra bactérias resistentes como a E. coli. A equipa testou três estirpes de E. coli resistentes ao phiX174 e descobriu que combinações de fagos gerados por IA superaram a resistência bacteriana através de recombinações genéticas, sugerindo cocktails de fagos mais eficazes para terapias personalizadas. Possíveis aplicações incluem:

  • Tratamento de infeções resistentes: Como a E. coli ou Staphylococcus aureus (MRSA) em hospitais.
  • Agricultura: Combater patógenos de culturas, como o black rot em couves.
  • Biotecnologia: Desenvolvimento de vetores virais para terapia genética. Stanford e Arc Institute Criam Vírus com IA que Ataca Bactérias: Um Avanço Promissor com Cuidados Necessários

Preocupações Éticas e de Segurança

Apesar do entusiasmo, a descoberta levanta alertas. J. Craig Venter, pioneiro em genomas sintéticos, advertiu: “Urjo extrema cautela em pesquisas de melhoria viral, especialmente quando aleatórias. Se isto fosse feito com varíola ou antraz, teria sérias preocupações.” A equipa excluiu genomas de vírus humanos ou animais do treino do Evo para minimizar riscos, mas o código aberto dos modelos levanta questões sobre mau uso. Niko McCarty da Asimov Press notou que alguns fagos gerados são tão distintos que poderiam ser classificados como novas espécies, aumentando o receio de aplicações mal-intencionadas.

A complexidade dos vírus, que não são considerados vivos devido à sua dependência de hospedeiros, facilitou o experimento, mas replicar isto em organismos mais complexos, como bactérias ou mamíferos, é atualmente inviável, segundo Jef Boeke: “A complexidade seria astronómica.”

Porquê Importante?

Para a comunidade científica e os portugueses interessados em avanços biotecnológicos, como os discutidos em eventos como a Comic Con Portugal ou feiras de ciência, este é um marco histórico, apelidado de “momento ChatGPT da biologia”. A capacidade da IA de criar genomas funcionais acelera a investigação, mas exige regulamentação global urgente, como sublinhado por bioeticistas. Embora o estudo ainda aguarde revisão por pares, os 16 fagos viáveis comprovam que a IA pode transformar a fagoterapia e a biologia sintética. Contudo, o equilíbrio entre inovação e segurança será crucial para evitar que esta tecnologia, como alertou Venter, se torne uma “novela apocalíptica”.

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Sou jornalista especializada em ciência e tecnologia, com foco em inovações digitais, internet das coisas e tendências do mundo IT. Acompanho de perto a forma como a tecnologia transforma o nosso quotidiano — desde novas descobertas científicas até soluções práticas que já fazem parte da nossa rotina. Nesta rubrica partilho notícias, análises e reflexões que unem rigor jornalístico e uma linguagem acessível, ajudando a compreender o presente e a preparar-se para o futuro.
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