Durante quase cem anos, os astrónomos ensinaram o mesmo número em todas as universidades: o Sistema Solar desloca-se a cerca de 827 000 quilómetros por hora em relação ao fundo cósmico de micro-ondas, a luz mais antiga que existe. Era um valor tão sólido que servia de base para calcular a idade do Universo, a quantidade de matéria escura e até a velocidade da expansão cósmica. Esse número acabou de ser destruído por um único estudo.
A única régua que temos para medir o movimento de tudo
O fundo de micro-ondas é como uma parede imóvel no espaço. Quando olhamos para ele em direções opostas, vemos uma pequena diferença de temperatura que revela exatamente para onde e a que velocidade viajamos. Esse movimento devia criar um efeito subtil: ligeiramente mais galáxias rádio-intensas na direção para onde vamos, ligeiramente menos atrás. Um desequilíbrio minúsculo, perfeitamente previsto pelos modelos atuais.
Quando decidiram contar mesmo a sério, o céu respondeu de forma inesperada
Uma equipa de astrofísicos pegou nos maiores catálogos de rádio jamais feitos – quase quatro milhões de fontes que cobrem um quarto do céu inteiro – e aplicou métodos estatísticos tão avançados que conseguem distinguir uma única galáxia mesmo quando aparece partida em vários pedaços nos mapas. Corrigiram diferenças entre telescópios, eliminaram ruído, contaram tudo outra vez. O resultado foi brutal: o desequilíbrio é várias vezes maior do que qualquer modelo cosmológico permite. Em palavras simples, ou estamos a viajar muito mais rápido do que pensávamos, ou o Universo inteiro não é tão uniforme como sempre nos disseram.
Uma velocidade que quebra a cosmologia em pedaços
O valor clássico ronda os 370 km por segundo. Os novos dados mostram que a velocidade real pode ser significativamente maior. Não é uma pequena diferença de arredondamento – é o suficiente para obrigar a recalcular tudo: a taxa de expansão, a quantidade de energia escura, a distribuição da matéria em escalas gigantescas. É como descobrir que o metro que usávamos para medir o mundo estava errado desde o início.
Só há duas explicações possíveis (e nenhuma deixa ninguém dormir tranquilo)
A primeira é que o Universo não é homogéneo nas escalas mais colossais. Podem existir superestruturas de matéria e vazios com centenas de milhões de anos-luz que funcionam como rios gravitacionais invisíveis, empurrando ou puxando grupos inteiros de galáxias de forma que ninguém previu. A segunda é que existe física nova que ainda ninguém encontrou. Alguma força ou propriedade que só aparece quando olhamos para distâncias de bilhões de anos-luz – talvez a matéria escura se comporte de forma diferente do esperado, talvez a energia escura tenha variações, talvez haja uma lei completamente desconhecida que só atua no vazio entre superaglomerados. Qualquer uma destas opções significa que os livros de cosmologia vão precisar de capítulos inteiramente novos.
O que vem a seguir vai mudar a história da ciência
Os novos radiotelescópios gigantes que estão a ser ligados neste momento vão repetir estas medições com uma precisão cem vezes maior e em frequências que ninguém usou antes. Se o excesso de velocidade se mantiver, estaremos perante a maior revolução desde que se descobriu que o Universo está a expandir-se cada vez mais rápido. Enquanto isso, tu estás aí, sentado, a tomar café ou a rolar o telemóvel, viajando pelo espaço a uma velocidade que ninguém consegue justificar. A Terra gira, o Sol brilha, e tudo parece normal. Mas lá fora, no vazio absoluto, algo está a empurrar ou a puxar o nosso cantinho do cosmos muito mais forte do que qualquer equação previa.
Neste exato segundo, o Sistema Solar está a disparar pelo Universo mais rápido do que a ciência julgava possível. Achas que vamos descobrir um Universo cheio de superestruturas escondidas ou uma lei da física totalmente nova que ninguém imaginou? Deixa a tua opinião nos comentários – o cosmos está cheio de segredos, e o próximo pode muito bem começar com uma ideia tua.
