Chega o momento da foto de família, do aniversário ou da saída com amigos e o adolescente desaparece, vira a cara, apaga a imagem ou simplesmente diz “não tiro fotos”. Muitos pais acham que é só “fase” ou teimosia, mas a psicologia explica que este comportamento costuma ser um sinal claro de algo mais profundo.
O corpo que muda e o espelho que incomoda
Na adolescência o corpo altera-se a uma velocidade brutal: aparecem borbulhas, o nariz parece maior, o peso oscila, a voz muda. De repente, a imagem no espelho já não corresponde à que o adolescente tinha na cabeça. Estudos mostram que a insatisfação com o corpo é um dos maiores fatores de ansiedade nesta fase. Quanto maior o desconforto com a própria aparência, maior a probabilidade de evitar qualquer registo visual – seja o espelho ou a câmara do telemóvel.
A câmara como juiz implacável
Para muitos adolescentes, a fotografia não é uma recordação – é uma prova. Uma prova de que têm borbulhas, de que o cabelo está estranho, de que o sorriso é torto ou de que “não estão bons”. A lente transforma-se num juiz que congela imperfeições para sempre. Investigação confirma: adolescentes com maior ansiedade social evitam sistematicamente situações onde podem ser fotografados, porque antecipam o julgamento dos outros (e o próprio).
As redes sociais transformam o problema em epidemia
Hoje uma foto não fica na gaveta – é filtrada, publicada e comparada com milhares de imagens perfeitas. Um estudo com mais de 2500 adolescentes mostrou que quanto mais tempo passam a ver e a editar fotos de aparência, pior é a satisfação com o próprio corpo. O ciclo é vicioso: quanto pior se sentem, mais evitam ser fotografados; quanto mais evitam, mais acreditam que “não prestam para foto”. Em casos extremos chega à dismorfofobia – a convicção distorcida de que têm um defeito físico horrível, mesmo que os outros não vejam nada.

Baixa autoestima disfarçada de “não gosto de fotos”
Por trás do “odeio fotografias” está muitas vezes um “não gosto de mim neste momento”. O adolescente está em plena construção da identidade e a aparência é uma das peças mais frágeis. Evitar a câmara é uma forma de proteção: se não há registo, não há prova do que ele considera “defeito”. É uma estratégia de controlo num período em que quase tudo parece fora de controlo.
Não é só “fase” – é um sinal para os pais
Forçar a foto ou gozar com a situação só piora. O adolescente sente-se ainda mais exposto e incompreendido. A atitude mais eficaz é abrir espaço para falar sem julgamento: “notei que foges das fotos, queres contar-me porquê?”. Muitas vezes basta ouvir para ele perceber que não está sozinho e que o corpo que hoje rejeita é apenas uma versão temporária.
Como ajudar em vez de insistir
Mostrar fotos antigas dos pais na adolescência ajuda a desdramatizar. Reduzir o tempo de ecrã e os filtros, valorizar qualidades não físicas e elogiar a coragem de ser autêntico são passos simples e poderosos. Quando a recusa é muito intensa e acompanhada de isolamento ou tristeza profunda, vale consultar um psicólogo – pode ser o início de um transtorno de imagem corporal.
O adolescente que foge da câmara não está a ser difícil. Está a proteger-se de um olhar que, neste momento, lhe dói. Compreender isso é o primeiro passo para o ajudar a gostar – um dia – de aparecer na foto. Já passaste por isto com alguém próximo? Como lidaste?

